NOVAS ESCAVAÇÕES “REGRESSAM” AO MONUMENTO NACIONAL EM ABRIL
Boas notícias para cultura e para o património da Trofa e da região. As escavações e os estudos arqueológicos vão regressar já em abril deste ano ao Castro de Alvarelhos.
Foi aprovada no final do ano passado, a Candidatura “Promoção, Valorização e Beneficiação do Castro de Alvarelhos”.
Esta operação foi aprovada no âmbito de uma candidatura submetida pela Câmara Municipal da Trofa ao Programa Norte 2020, com um investimento elegível de quase 438 mil euros, que será comparticipado em 85%, e vai decorrer até outubro de 2021.
Este investimento vai assim possibilitar a criação de condições de acesso e de visitação daquele monumento nacional, tornando o Castro de Alvarelhos acessível a todos, já que engloba um posto de apoio à visitação e áreas de estacionamento e estadia.
Em simultâneo esta candidatura inclui ainda a vertente da realização de um estudo científico para valorização do Castro, incluindo a realização de novas escavações que vão “produzir” novos achados e consequentemente novos trabalhos científicos, contribuindo também para o aumento, a conservação e o restauro do acervo proveniente do Castro.
O Presidente da Câmara Municipal da Trofa, Sérgio Humberto, considera que esta candidatura “é de extrema relevância, pois vai permitir à Autarquia requalificar a zona envolvente daquele monumento, permitindo também dar continuidade ao estudo arqueológico do Castro e, consequentemente, do território Trofense e da região.”
Se um dos objetivos principais desta candidatura é projetar o Castro e torná-lo mais acessível, aumentando assim, o número de visitantes, não é menos importante a mais valia que este investimento vai trazer para a dinamização e capacitação da Rede de Castros do Noroeste.
De recordar que o Castro de Alvarelhos é Monumento Nacional, desde 16 de Junho de 1910, beneficia de uma Zona Especial de Proteção, desde 1976, retificada e ampliada em 1992. Teve várias épocas de ocupação, desde os finais da Idade do Bronze à Idade Média, e delas guarda vestígios materiais e arquitetónicos.
O povoado estende-se desde o cabeço, denominado “Monte Grande”, pela encosta abaixo, na direção nordeste, ladeado por duas linhas de água, numa extensa área que o coloca entre os maiores do Noroeste Peninsular. A sua localização, na encosta voltada ao fértil vale aluvionar, é sugestiva do carácter agro-pastoril das comunidades que o habitaram ao longo dos tempos.
A ocupação deste local durante a Idade do Bronze está documentada por cerâmicas polidas e carenadas, machados em pedra polida e lâminas em sílex, sendo, por ora, desconhecidos vestígios de construções desse período.
Durante a Idade do Ferro, aparece-nos designado como “castellvm madiae” - o castro dos madequisenses - povo indígena que aqui habitou a partir do século II aC. Esta comunidade, que seria, já nos finais do milénio, tão importante quanto dinâmica no contexto regional, abraçará com empenho o processo romanizador, transformando-se cultural e urbanisticamente num modelo que procura imitar os padrões da urbe clássica.
Desta forma, a partir dos inícios do século I d.C., o povoado indígena sofre profundas reformulações arquitetónicas, mormente nos espaços e equipamentos de carácter social, mas também na estruturação dos espaços domésticos, que cada vez mais adotam os modelos de construção romana. O carácter de centralidade deste povoado na região circundante parece claro, apesar de continuar ambíguo o seu estatuto jurídico, enquanto sítio urbano secundário, suspeitando-se que possa ter sido um “vicvs”.
A proximidade da via romana, troço Cale-Bracara, documentada por um miliário encontrado na área do povoado, reforça a importância geoestratégica deste núcleo urbano.
Este longo percurso sob o domínio romano durou até aos finais do império e foi o mais marcante para a configuração deste sítio arqueológico. A partir de meados do século V d.C., e talvez na sequência de um amplo incêndio, a população debandou, ou circunscreveu-se a espaços ainda não detetados pela Arqueologia, pelo que este núcleo urbano, enquanto tal, é definitivamente abandonado.
As fases de ocupação seguintes são pontuais, reportando-se a uma pequena fortificação no Monte de S. Marçal, entre os séculos IX e XII, e uma igreja com cemitério, datável entre meados dos séculos XII e XVI.