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CÂMARA MUNICIPAL DA TROFA VAI APRESENTAR CANDIDATURA DOS SANTEIROS DE SÃO MAMEDE DO CORONADO À UNESCO
18 de Maio de 2021
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PROCESSO DE CANDIDATURA AGUARDA A INSCRIÇÃO DEFINITIVA NO INVENTÁRIO NACIONAL DE PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL INICIADO EM 2015

 

 

13 de maio de 2021, foi o dia escolhido pela Câmara Municipal da Trofa para anunciar a intenção de candidatar o saber-fazer dos Santeiros de São Mamede do Coronado a património cultural imaterial da Unesco.

A história do património dos Santeiros de São Mamede do Coronado está intrinsecamente ligada “ao ícone mariano mais conhecido do mundo”, a Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que chegou à Cova da Iria a 13 de junho de 1920, depois de esculpida pelas mãos do Mamedense e Mestre Santeiro José Ferreira Thedim, herdeiro de uma longa tradição de santeiros, pai e avô, com quem aprendeu o ofício e de quem herdou a oficina.

No dia em que se comemoraram 104 anos da aparição de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos, a Câmara Municipal da Trofa anuncia oficialmente o início do processo que vai culminar com a apresentação à UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, do pedido de inscrição do saber-fazer dos Santeiros de São Mamede do Coronado na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, como “um projeto de cultura, de preservação da história e da memória da Trofa e de Portugal”.

“Considerando que a produção de arte sacra é indissolúvel do território do Vale do Coronado, das suas gentes e da sua identidade cultural, marcando a história local, mas assumindo-se também como uma arte única em Portugal e no mundo, entendeu a Câmara Municipal da Trofa avançar com o processo de candidatar esta herança da cultura popular portuguesa à UNESCO”, reforçou o Presidente da Câmara Municipal da Trofa, Sérgio Humberto

O Edil Trofense explica ainda que “esta candidatura é sustentada pela necessidade de salvaguarda de um ofício ancestral documentado na localidade desde o século XIX. Neste contexto “queremos proteger e preservar esta tradição, projetando-a no futuro, não podemos permitir que fique fechada e presa apenas ao passado”.

Com esse objetivo, tem sido muito o trabalho desenvolvido por parte da Câmara Municipal. “Este vasto património tem vindo a ser estudado e amplamente divulgado como elemento estruturante da nossa política cultural, atingindo hoje patamares de visibilidade pública, sendo consensual a necessidade da sua salvaguarda, valorização e promoção. Os Santeiros, como localmente são conhecidos, esculpem e pintam à mão, em contexto oficinal, imagens de vulto devocionais em madeira. Pelas suas características, qualidades técnicas e artísticas, os trabalhos que realizam são expedidos, ainda hoje, para todo o mundo católico, sendo um importante produto de distinção e de divulgação internacional” , explica o Presidente da Câmara Municipal da Trofa.

Reconhecendo a importância deste património cultural, a Câmara Municipal da Trofa tem implementado diversas ações de salvaguarda e divulgação do mesmo, as quais se sublinham:

-  o estudo da oficina Stúdio Nossa Senhora de Fátima, do mestre Avelino Moreira Vinhas, a única que restava do modelo das grandes oficinas. Aí foi possível conhecer e registar: diversos interlocutores como santeiros, antigos e atuais, clientes dos quais se incluíam artistas de referência da escultura contemporânea e antigos aprendizes; o território e as restantes oficinas (as ativas e as encerradas); histórias de vida e do ofício; materiais, técnicas e ferramentas de trabalho; a transmissão da aprendizagem; dimensão nacional e internacional das obras, entre outros. Realizou-se o inventário do espólio oficinal e efetuou-se a avaliação da coleção tendo por base critérios de singularidade e raridade, material e técnica de produção, local de origem, autoria e estado de conservação. A partir desse trabalho, ampliou-se o estudo às restantes oficinas e santeiros em atividade;

- Em 2013 integrou o tema no projeto PIAM – Património Imaterial da Área Metropolitana do Porto, no qual foram produzidos e disponibilizados conteúdos audiovisuais sobre o mesmo, disponíveis em: http://piamp.amp.pt/pt/;

          - Em 2014 adquiriu o espólio da Oficina Stúdio Nossa Senhora de Fátima, composto por mais de 800 espécimes que incluem modelos em madeira e em gesso, ferramentas, bancas de trabalho e documentação. Esse espólio faz parte integrante das coleções museológicas da Câmara Municipal da Trofa;

          - Em 2015 e 2016 preparou e submeteu o processo de inscrição do “Saber-fazer dos Santeiros do Vale do Coronado” na Lista Nacional do Património Cultural Imaterial do Ministério da Cultura N.º de inventário: PROC/0000000046, processo que está em processo de finalização para poder avançar com o projeto junto da Comissão Nacional da Unesco;

- Em 2017 (ano do Centenário das Aparições de Fátima) organizou o encontro «O Centro de Produção de Arte Sacra do Vale do Coronado», em São Mamede do Coronado, na antiga casa de José Ferreira Thedim, reunindo santeiros, especialistas da temática e entidades com responsabilidade na salvaguarda e divulgação deste património, nomeadamente: a Direção Regional de Cultura do Norte, o Santuário de Fátima, Museus e Universidades.

No mesmo encontro lançou a primeira publicação sobre este património, intitulada por «A Produção de Arte Sacra no Vale do Coronado», totalmente elaborada com conteúdos investigados pela Autarquia. A publicação foi reimpressa em fevereiro de 2021.

          - Ainda em 2017 adquiriu o espólio da antiga oficina de José Ferreira Thedim, que se encontrava fora do concelho da Trofa e em risco de alienação. O mesmo conta com cerca de 800 modelos em gesso e barro e foi incorporado nas coleções museológicas da Autarquia. Está prevista, a médio prazo a limpeza e conservação de 306 modelos de barro e gesso pertencentes a esta coleção.

          - Em 2019 iniciou uma parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional para a realização de um projeto piloto de formação profissional de pintura e escultura de arte sacra, com o objetivo de dar continuidade à transmissão do ofício. O curso encontra-se aprovado e será brevemente implementado nas instalações da antiga EB1 de Feira Nova, São Mamede do Coronado, remodelada e disponibilizada pela autarquia para o efeito;

- Em 2020 candidatou-se e venceu o programa televisivo das “7 Maravilhas da Cultura Popular” da RTP. 

Tendo em vista a candidatura à UNESCO, a Câmara Municipal da Trofa tem agora um longo processo pela frente de consolidação de um plano de salvaguarda desta arte, apostando na criação de uma escola de formação que perpetue este ofício, classificando alguns locais ligados à história deste ofício como imóveis de interesse municipal e criando um espaço museológico multi-expositivo que acolha também o espólio da Autarquia ligado à arte sacra.

Em curso estão diligências de preparação do grupo de trabalho que integra também o professor e historiador José Manuel Tedim, estudioso da área, filho e neto de santeiros, designadamente sobrinho neto de José Ferreira Thedim, autor da Imagem de Nossa Senhora de Fátima.

Em paralelo, esta candidatura e todo o processo de salvaguarda permitirá a integração com outros projetos em preparação como por exemplo a dinamização de itinerários culturais de valorização e promoção do património material e imaterial local, relacionando-os com a dinamização dos Caminhos de Santiago e dos Caminhos de Fátima.

 

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

 

Este ofício, conhecido e desenvolvido por várias famílias do território que constitui hoje a Trofa, especialmente, na Freguesia de São Mamede do Coronado localidade, está documentado do Vale do Coronado, desde, pelo menos, o séc. XIX. Contudo, a partir de 1920 esta arte teve um crescimento exponencial. Nesse ano, José Ferreira Thedim (1892-1971), realizou a imagem para a Capelinha das Aparições do Santuário de Fátima. Na segunda metade da década de 1940, o mesmo mestre produziu duas novas imagens da iconografia mariana de Fátima: a Virgem Peregrina e o Imaculado Coração de Maria.

Tal como José Ferreira Thedim, as outras famílias de santeiros, ou imaginários, adaptaram-se ao novo mercado dos devotos da Cova da Iria. As oficinas rapidamente adequaram o seu modo de produção artesanal aos moldes das oficinas-fábrica, através de uma especialização hierarquizada da mão-de-obra que, além de trabalhar em série, não suspendeu a execução artesanal. A partir daqui, até aos anos 80, proliferaram várias pequenas e médias oficinas, com razões e fins bastante diferentes, realizando um repertório vasto de imaginária religiosa produzido em diversos materiais. Em poucos anos, São Mamede do Coronado transformou-se no centro de produção da imaginária portuguesa.

Na atualidade, estes profissionais trabalham, na sua maior parte, em casa, num contexto oficinal de um só trabalhador, esculpindo e pintando peças em madeira, com métodos e técnicas ancestrais e de elevado nível de execução.

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